quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Alguns me perguntaram o que significa isto "Alea Jacta Est", a real tradução vem a seguir, mas eu tenho que dizer que pessoalmente tem um valor, um significado muito especial, pois marca muito a minha vida de uns tempos pra cá...
Talvez em um futuro próximo eu possa dizer qual é a verdadeira fonte de onde eu peguei e adotei na minha vida, mas enquanto esse dia não chega vou disponibilizar para todos a traduçãou irei colocar a tradução do titulo que este blog tem Alea Jacta Est.

Prólogo

Vamos onde nos chamam os sinais dos deuses e a injustiça de nossos inimigos! A sorte está lançada!

CAIO JÚLIO CÉSAR PERCORRE AS RUAS DE RAVENA. Com os braços cruzados, segura as abas de sua toga, levadas pelo vento gelado neste dia de inverno. Ouve os murmúrios dos centuriões de sua XIII legião, a segui-lo, a poucos passos. Asínio Polião, jovem de cabelos anelados, em quem Júlio César confia plenamente, marcha perto dele. César detém-se à beira dos pastos que cercam a cidade.

A erva deita-se ante as rajadas de vento, e adivinhamos, na extremidade deste terreno montanhoso, os fluxos e refluxos, as ondas, as breves vagas cinzas deste mar Adriático. Neste mar, lança-se o Rubicão, pequeno rio, torrente a rolar desde as cadeias de montanhas, desde os Apeninos das águas de lama, a marcar a fronteira entre a Gália Cisalpina, aquém dos Alpes, e a Itália. A lei romana é clara: um procônsul que atravessa, à frente de suas tropas, a margem norte da Cisalpina, rumo à margem italiana do Rubicão, vem a ser um criminoso expulso da República.

É preciso passar por esse risco?

César lembra-se do sonho desta noite, desta mulher de face oculta por um véu. Ela o convida, lascivo, oferecido, a juntar-se a ela em sua cama, a amá-la. Ele avança, enlaça-a como amante impetuoso, experimentando intenso prazer, talvez o mais forte que jamais experimentara — e, todavia, possuíra tantos corpos de mulheres e de homens. Mas, no momento em que se ergue, a mulher desvela sua face, e ele reconhece os traços de sua mãe, Aurélia Cota.

César desperta, corpo coberto em suor, buscando compreender o sentido desse sonho de uma noite de incesto. E lembra-se de sonho semelhante, o sonho espanhol, no início de sua carreira, na Espanha, vinte anos antes. Mas, agora, que significa essa união com sua mãe? Ele deve violar o proibido? Deve penetrar com suas legiões na Itália, e depois em Roma?

Júlio César levanta os olhos: o céu, neste 11 de janeiro de 49*, é de um azul sem luz, quase ébano, bem acima do mar.

Neste céu, os deuses vão traçar um sinal? Vão falar? Vão convidá-lo a atravessar o Rubicão para vir a ser o senhor de Roma, para não mais ser somente um ambicioso de 52 anos, este procônsul que vem de conquistar a Gália além dos Alpes, que enviou a Roma saques e prisioneiros, entre eles Vercingetorix, o Gaulês, arverno e celta, que, sob os muros de Alésia, veio ajoelhar-se ante César, lançando suas armas aos pés do vencedor?

Esta vitória não é o sinal? A Fortuna não o acompanha desde seu nascimento, em 13 de julho de 101, em uma família que imagina possuir origens divinas?

Não é ele o herdeiro, portanto, o descendente de Vênus, o sumo sacerdote de Roma, desde 63?

Como os deuses podem vir a abandoná-lo, enquanto ele deseja coroar a sua vida, dar-lhe um sentido, reunindo, ao redor de Roma, ao redor de si mesmo, todas as terras conquistadas, as colônias do Oriente e a Espanha, a Grécia, e esta Gália que ele vem de dobrar, unindo-a a Roma?

Ele deve atravessar o Rubicão!

Que pode esperar desses senadores que governam em Roma, que já não é senão uma sombra da República? César se volta. Chama a si, com um movimento de cabeça, os que acabam de chegar de Ravena, após fugir de Roma. Vê Curião, Antônio, Cássio, Hírcio — talvez o mais fiel, o chefe de seus secretários.

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* Ano 49 a.C. A vida de César (Roma, 13/07/101–15/03/44) termina quatro décadas
antes do nascimento de Cristo.

Alguns tiveram de deixar a cidade em disfarces, temendo ser presos, assassinados. Hírcio narrou a determinação dos senadores em tirar todos os poderes de César, tanto eles temem as suas legiões, a sua vontade de governar só, de apoiar-se no povo. Escolheram Pompeu, o imperator*, vencedor no Oriente, para esmagá-lo. Não é a República que eles defendem, mas a sua própria influência, seus bens, seus negócios. Não desejam as reformas de César. Que viriam eles a ser, se César instituísse a monarquia em seu proveito!

César inclina-se, ouve Curião repetir: os senadores decidiram, em 7 de janeiro vão retirar-lhe o proconsulado da Gália. Nomearam, para seu lugar, um de seus inimigos, Domício Aenobarbo. Que lhe restará? Que poderá sem as suas legiões? Não mais terá futuro político algum. E, se não ceder, será o inimigo público de Roma!

César cerra os braços, está com frio. Alguma vez experimentou esta sensação de uma energia, de um punho gelado a esmagar-lhe a nuca? Entretanto, sempre combateu na primeira fileira de suas legiões. Arrancou as bandeiras das mãos dos fugitivos para lançar-se adiante. Fez sair seu cavalo do campo de batalha para mostrar a todos que ia lutar de espada na mão, como simples legionário.

Enfrentou os piratas, navegou sobre o mar Oceano**, ao largo das costas da Armórica. Atravessou o mar para pousar o primeiro pé romano sobre a terra da grande Bretanha. E, duas vezes, atravessou o mais largo dos rios às margens das negras florestas germanas, o Reno.

Mas, agora, hesita na travessia deste rio, desta torrente, deste Rubicão... Murmura, aproximando a cabeça de Asínio Polião:

— Renunciar a atravessar este rio fará minha desgraça, mas atravessá-lo fará, talvez, a desgraça da humanidade. Será preciso combater, legião contra legião, romanos contra romanos. Será preciso conduzir a guerra contra o Senado, contra Pompeu. Mas há alguma lei além da força? Como a Fortuna e a Vitória viriam a escolher um homem que renuncia à força?

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* General, chefe supremo. Neste contexto. (N.T.)
** Atlântico. (N.T.)

César toca o cabo de sua espada. Tantas vezes, desde seus primeiros combates, quando tinha apenas vinte anos e guerreava no Oriente, fez este gesto, disse esta frase, que repete novamente, em voz rouca, cerrando a espada:

— Eis quem vai me proteger. A lâmina deve decidir seu triunfo.

Ele fala brevemente aos homens que o cercam.

Ordena que centuriões e cavaleiros — esses homens seguros e experientes — atravessem o Rubicão sob a conduta de Quinto Hortênsio...

Ele pousa a mão no ombro do jovem.

Que eles tenham como única arma as suas espadas, que eles tomem a primeira cidade da Itália além do rio, Arímino (Rimini). Que não criem tumulto algum, que não matem nem firam ninguém, que, senhores da cidade, esperem. César pesa sobre os ombros de Hortênsio. Experimenta, sentindo o jovem corpo tenso como corda de um arco, uma excitação mesclada de emoção. Ele é o chefe, ele é aquele que os homens seguem, por quem estão prontos a dar a vida: ele encarna a força, a Fortuna, a Vitória. E já o viram vencer Ariovisto, o Germano, e Vercingetorix, o Gaulês.

— Vamos — César ordena.

Os homens se movem.

Agora, é preciso camuflar-se através desta jornada de 11 de janeiro de 49: os espiões de Pompeu e do Senado devem estar fervendo em Ravena, e a força multiplica-se através da surpresa.

César senta-se nos degraus de um pequeno anfiteatro. Na arena, os gladiadores enfrentam-se, entre gritos. Ele parece seguir os duelos, enquanto olha, além, estes pastos atravessados pelo Rubicão, este mar onde o rio é devorado.

Depois examina, esforçando-se para dar todos os sinais de interesse, os planos de uma escola de gladiadores. Vez por outra, levanta a cabeça para o céu a assombrar-se. A noite cai. Nela se encontra o momento de escolher. Mas os deuses vão falar?

Em passo lento, ele deixa o anfiteatro. É seguido com respeito. Vai para casa, preparar-se para a ceia.

Os escravos apressam-se. O cômodo onde ele entra é invadido pelo vapor quente. Deita-se. Massageiam-no. As mãos deslizam por sua pele, sua cabeça calva, seu corpo onde transparecem ossos e músculos. Ele ama este momento em que cada músculo distende-se sob a carícia dos dedos, sob a pressão das palmas. Fecha os olhos. Mas não é hora desses prazeres a que tanto se rendera. Existe prazer maior que a Vitória a coroar a força?

Ele se levanta lentamente, os olhos semifechados, os lábios cerrados. Com um gesto, pede que lhe lancem água fria. Todo o seu corpo se enrijece, sente-se jovem e invencível. Entra na sala a que convidou alguns próximos para a ceia. Sorri. Observa. Espera, paciente, que a noite, enfim, seja perfeita. Será tempo de enganar os convidados, de convidá-los a continuar a cear. Então sairá, encontrará alguns homens avisados, à beira do Rubicão, à aurora, e partirá em rumo oposto, em carro atrelado com mulas, emprestado ao padeiro vizinho.

A noite de 11 a 12 de janeiro de 49 é uma só massa negra e gelada. Os deuses vão falar?

O passo das mulas é lento e hesitante. O vento magoa as árvores. Perde-se o rumo. É um sinal? Advertência divina?

Um homem passa e indica o caminho rumo ao rio.

Eis as margens do Rubicão a sair pouco a pouco da noite, mas a permanecer envoltas em densa névoa. César salta do carro, marcha rumo à pequena ponte que atravessa o rio. Percebe — unidos a alguns passos — os batalhões da XIII legião, as bandeiras brilhantes ao céu cinza. Sente-se, ao mesmo tempo, certo e hesitante.

— Agora, ainda podemos voltar atrás — murmura —, mas, quando atravessarmos esta ponte, tudo deverá ordenar-se pelas armas. Pousa a mão novamente no punho de sua espada.

Avança rumo ao rio que continua a livrar-se da névoa. As pastagens descem também, suavemente, sem precipícios, rumo ao rio que, nas cheias, irriga-as. Faz um gesto, dá uma ordem: soltem os cavalos, eles vão pastar à beira-rio, no Rubicão, como oferta para tornar os deuses generosos.

— Afinal — fala, olhando intensamente os cavalos a galopar, a roçar uns nos outros, a pastar, a relinchar, levantando a cabeça para o alto —, só há um lance arriscado a jogar. Avante!

Eis a vida. Ela não é nada se não a percorrermos livres como esses cavalos. Seu galope à beira do Rubicão é a imagem da sina de um homem que os deuses escolheram para vencer. De um só lance, um som agudo eleva-se, vindo da margem. Eis um homem sentado, quase nu, apesar do frio, os cabelos a mesclar- se à barba anelada. Toca flauta, os dedos ágeis correm pelo instrumento, dando à luz um canto que, pouco a pouco, preenche a grande aurora. Pastores aproximam-se dele, soldados também. Certos legionários levam ao pescoço seus clarins. César vê a cena que o dia, aos poucos, esclarece em viva luz. De um só lance, o tocador de flauta levanta-se. Ele é grande, sua beleza brilha ao sol nascente.

Eis enfim o sinal?

O homem toma o clarim de um legionário e começa a caminhar rumo ao Rubicão, a tocar a marcha com potência alegre, arrebatadora. Passa à outra margem do rio, continua a tocar entre as árvores. É preciso eternizar este instante. César avança à pequena ponte. A cada passo sente o peito a abrir-se, a encher-se de força, o corpo a lançar-se adiante.

Volta-se para os batalhões:

— Vamos onde nos chamam os sinais dos deuses e a injustiça de nossos inimigos! Alea jacta est! A sorte está lançada

Retirado do site: http://www.starnews2001.com.br/historia/jacta_est.html

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